No blog Intenção Oculta, gosto de observar o que está por trás das ações cotidianas — aquelas camadas invisíveis que moldam comportamentos, decisões e emoções. Hoje, trago um relato real, vivido por mim, que poderia facilmente passar despercebido… se não fosse tão revelador.
Uma Cena Comum, Uma Estratégia Brilhante

Era uma tarde qualquer no metrô de São Paulo. Vagão cheio, gente cansada, celulares em punho. Até que um vendedor ambulante entrou, oferecendo um relógio digital: media batimentos cardíacos, conectava com o celular, mostrava notificações. Tudo isso por “metade do preço das lojas”.
Logo após a apresentação, um homem do outro lado do vagão perguntou alto:
— Paga no Pix?
O vendedor respondeu com agilidade:
— Pode sim! Minha chave é o número do celular…
Mas algo me chamou a atenção: o suposto comprador nem desbloqueou o celular. Era uma encenação. Um teatro cuidadosamente ensaiado.
O vendedor seguiu oferecendo o produto. Um pai comprou um para o filho. Duas estações depois, o discurso mudou:
— Gente, o rapa vai levar tudo! Pra não sair no prejuízo, vou fazer dois pelo preço de um!
E assim, entregou mais um relógio ao pai e outro ao “primeiro comprador”. Em seguida, mais dois passageiros compraram. Tudo em poucos minutos.

A Persuasão em Movimento
Ao sair do vagão, me veio à mente um livro que li há alguns anos: As Armas da Persuasão, de Robert Cialdini. E percebi que o que presenciei foi uma verdadeira aula prática de influência. Veja só:
- Prova Social: O falso comprador foi o primeiro dominó. Sua “compra” criou a ilusão de que o produto era confiável. As pessoas seguiram o exemplo.
- Escassez: O discurso do “rapa” criou urgência. A sensação de que a oportunidade estava prestes a desaparecer acelerou as decisões.
- Reciprocidade: Ao dar um segundo relógio “de presente”, o vendedor gerou um sentimento de dívida. Quem recebe algo inesperado tende a retribuir.
- Autoridade Implícita: Ao comparar com lojas e citar funcionalidades técnicas, ele se posicionou como alguém que entende do assunto.
- Compromisso e Consistência: Uma vez que alguém “comprou”, os demais se sentiram mais seguros para fazer o mesmo. Afinal, ninguém quer parecer o único desconfiado.
E Se Estivermos Todos em Um Vagão?
Esse episódio me fez pensar: quantas vezes somos influenciados sem perceber? Quantas decisões tomamos baseadas em gatilhos emocionais, e não em lógica? Será que o marketing moderno é apenas uma versão mais polida do que acontece nos vagões de metrô?
Ou será que a verdadeira intenção — aquela oculta — está sempre presente, mesmo quando achamos que estamos no controle?
Fica para a nossa reflexão diária……………….
Sr.Quito – em 04/11/2025.

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